Quero falar do luto, mas não das teorias, das fases do luto saudável ou do tempo adequado para vivê-lo. Quero falar deste sofrimento que é inevitável quando perdemos alguém muito querido.
A morte é algo natural, todos nós vamos morrer um dia, mas quando chega para alguém que amamos, mesmo que esperada, somos arrebatados por uma dor como se tivesse acontecido algo inconcebível. O tempo parece que pára e aquele momento da perda parece ficar eternizado. Vem tristeza, raiva, culpa, ansiedade, solidão, cansaço, desânimo e tudo isso faz parte, é inevitável. Mesmo que neguemos estes sentimentos, e o melhor é não negá-los, eles estão lá e é bom que sejam expressados para que não nos tragam consequências, como depressão ou outras doenças psicossomáticas.
Pinker, um neurocientista, escreveu que o luto tem uma função essencial para a sobrevivência da espécie. Acredito muito nisso, pois a tristeza de perder alguém amado nos faz olhar para nossa própria vida e nos convida a cuidar bem uns dos outros, a refletir sobre a importância que damos a eles e a nós mesmos. Pensamos, temos noção de tempo e acabamos por reviver nossa história com aquele ente querido e a projetar como será o futuro sem ele. As comemorações, a convivência nos contextos onde ele fazia parte e como serão sem ele, como seremos sem ele e quase que inevitavelmente pensamos em nossa própria finitude.
Ficamos desejando sua presença. Sem perceber esperamos que ele chegue do trabalho, que nos ligue ou mesmo que brigue conosco por algum motivo. Todos os detalhes lembram que ele já não está mais lá e chegamos a duvidar que seja verdade.
Quando perdemos um descendente também temos que lidar com a sensação de que falhamos de alguma maneira, de que deveríamos ter feito algo para evitar, pois acreditamos que nossa função é proteger nossos descendentes e ser por eles superados. Projetamos que eles seriam mais bem sucedidos, mais felizes do que fomos e este projeto também morre com eles e isso dói muito.
Mas como superamos? Vivendo cada momento com o respeito e a aceitação que eles merecem. Sem negar a dor, sem negar a falta, mas também sem negar o fato de que a melhor maneira de reverenciar a morte e a vida deste ente amado é aprender a transformar esta dor em saudade, ter a certeza de que ele sempre terá um lugar em nossos corações, em nossos sistemas, em nossas vidas.
E aí o tempo passa, nos ocupamos de outras coisas, estabelecemos outros vínculos, aprendemos a não esperar mais e a lidar com a lembrança. Surge a saudade que vem como um acalento. Então podemos compreender que era este o destino dele e nada poderíamos fazer para mudar. A confiança em algo maior, eu creio em Deus, nos ajuda a ter certeza de que tudo está exatamente como deveria. De repente pegamo-nos pensando nele com leveza, não mais com pesar e, assim a vida segue porque este é o fluxo natural. Assim é…