Outubro Rosa


Outubro Rosa, todos voltamos nossa atenção para o câncer, em especial o de mama, sua prevenção fisiológica e aos cuidados com o corpo. Mas e a prevenção afetiva e emocional? É possível olhar para o câncer a partir das relações familiares?

No século V a.C., Hipócrates empregou pela primeira vez a palavra “câncer” ao observar que algumas feridas pareciam penetrar profundamente na pele, como um caranguejo (karkinos em grego, câncer em latim) agarrado à superfície. Ele também afirmava que o estado de saúde de um indivíduo evidencia a harmonia entre suas instâncias internas e destas com seu meio ambiente, ou seja, o olhar dele ia além do indivíduo e sua doença, para se estender ao sistema que o circundava. Esta visão porém, foi sendo deixada de lado na medida em que ocorria o desenvolvimento tecnológico. Cada vez mais passou-se a olhar o órgão e dar menos atenção ao paciente e sua história de vida pessoal. Nenhuma outra doença torna tão clara a relação entre corpo, alma, mente e sociedade como o câncer. O simples diagnóstico da doença já é recebido na família como uma sentença irremediável de morte e mobiliza todo o sistema, é como se de alguma forma os “fantasmas” não encarados viessem assombrar.

Vou agora trazer um pouco de como a doença é vista a partir do trabalho da Constelação Familiar.

Todos nós nascemos em uma família e estamos vinculados inconscientemente através de uma “consciência familiar” que compartilha de um destino comum e vela pela coesão da família. Desta forma nos apegamos a muitas doenças e sintomas pelo desejo de proximidade com nossos pais ou pela necessidade de pertencer a nossa família, ou mesmo uma necessidade inconsciente de compensação, quando nos sentimos culpados ou exibimos uma pretensa reivindicação.

Poucos são os pacientes que percebem inicialmente a relação entre sua doença e sua família, ou reconhecem a influência que eles próprios exercem sobre sua doença.

Muitos pais não conseguem estar totalmente presentes na vida de seus filhos porque encontram-se presos aos próprios emaranhados internos. A criança, por sua vez, através do amor incondicional e lealdade infantis, procura nela a causa de sua dificuldade na relação com os pais e, por não encontrar, se retira emocionalmente lhe restando o desespero ou a raiva, às vezes até perdendo o respeito pelos pais. Isso perturba o equilíbrio da alma e o bem estar do corpo. Internamente é como se dissesse “não” à vida que recebeu dos pais e de seus antepassados. Tudo num nível inconsciente.

Segundo Stephan Hauner, enredamentos sistêmicos familiares e traumas originados por separações prematuras provocam insegurança na criança quanto à sua vinculação e frequentemente impedem o sucesso de sua realização espiritual profunda. Daí a grande importância da reconciliação com os próprios pais.

Dizer “sim” à vida pode ser algo muito difícil para algumas pessoas e isto só é possível quando ocorre uma aceitação dos pais como eles são e do que receberam deles como o que foram capazes de dar, nem mais nem menos. Quando nego meus pais, nego minha própria existência, quando os aceito, posso também me aceitar.

Desta forma o primeiro passo para a cura de qualquer enfermidade, e aqui, do câncer em especial, passa por assumir a responsabilidade que lhe cabe de aceitar os pais e a própria família de origem, pois nossos pais sempre são e serão os melhores pais para nós, pelo simples fato de terem nos dado tudo, pois nos deram o principal, a vida.  Conectado aos pais e à família de origem, o paciente adquire a força para defrontar-se com a doença, para encarar o que é dele e o que fazer para mudar. Sem sombra de dúvidas, todos recebemos algo de nossos pais e sentimos que faltou algo, porém cabe a nós nos conectarmos ao que recebemos como uma dádiva e nos desenvolvermos para conquistar tudo o mais que desejamos.

No caso do câncer o que se observa nas Constelações Familiares é a existência de um julgamento muito forte diante dos pais. O paciente assume uma postura rígida, se coloca maior do que os pais, acusa-os de seus próprios destinos e tem uma dificuldade grande de se curvar diante deles. É como se dissessem, “vocês não me deram o suficiente e eu prefiro adoecer e morrer a me curvar diante de vocês e aceitá-los tal como são”.

Na perspectiva do trabalho das constelações, o primeiro passo libertador para o paciente seria libertar-se deste julgamento, receber o amor dos pais e se reconciliar com seu passado, pois:

“Somente quem se harmoniza com seu passado fica livre para o futuro. Quem luta contra o que passou permanece amarrado, quer se trate de sua própria vida, como uma perda, uma separação prematura dos pais ou uma decisão errada, quer se trate de algo que transcenda a sua própria pessoa e se relacione à história de sua família.” (Stephan Hauner)

Portanto, uma ação preventiva do câncer não passa apenas pelo olhar do próprio corpo, mas também, e talvez principalmente, como reconheço, aceito, respeito e reverencio meus pais e ancestrais dentro mim.

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