Começo a me despedir de Vancouver. Olho para dentro e me pergunto o que significou esta viagem – quase uma jornada – e percebo que houve o tempo todo um movimento de integração entre o velho e o novo.
Cheguei no final de um ano velho, cansado de tantos desafios; e volto no início de um ano novo, com muitos dos mesmos desafios e novos questionamentos.
Meu velho sistema recebeu aqui um novo membro. O primeiro a nascer em um país estrangeiro, e eu como ancestral precisarei aprender a me relacionar com esta distância.
Pela primeira vez estive em Vancouver não como turista e pude vivenciar um pouco do cotidiano dos moradores daqui e aprender novos hábitos, novos olhares, e uma nova maneira de me relacionar com as pessoas e comigo mesma. Não tenho fluência no inglês e por muitas vezes me senti como uma criança , experimentando a emoção e sentimento diante de um mundo que não compreende totalmente; e tive que lidar com isto sem usar muito da razão. Fiquei muitas horas em silêncio. Pude olhar para dentro de mim e conversei muito com minha criança interior. Parte de mim se sentiu encantada com o novo que se apresentava, outra parte desejava voltar ao velho, à zona de conforto. Fiz longas caminhadas sozinha e novamente o silêncio foi meu companheiro. Ele me ensinou a olhar para a natureza com mais cuidado e atenção, foi como permanecer por horas em estado meditativo. Muitas vezes me perdi, depois me achei, deixei que o meu instinto me guiasse. Sem controle, sem ansiedade ou expectativa. Eu sabia que no final, por mais que me perdesse, eu me acharia. Como acontece sempre na vida.
Antes, eu só havia estado na neve a passeio e sempre senti uma alegria muito grande. Havia um velho questionamento de se eu continuaria gostando tanto caso tivesse que conviver com ela no cotidiano e descobri que sim, eu amo a neve e o frio. Eles me dão ânimo e disposição, que vem da minha alma, talvez de uma vida passada, talvez uma reminiscência sistêmica. Não sei, sei apenas que caminhar na nevasca foi uma das melhores coisas que fiz aqui.
Agora é hora de voltar, mas voltar para onde? minha criança interna pergunta. Respondo: para o nosso cotidiano, para o velho, mas podemos levar um novo olhar adquirido aqui nesta experiência do deixar fluir. Como na natureza, onde o ciclo atual segue o ciclo anterior, carrega coisas do velho, mas traz nuances e possibilidades do novo. Que assim seja, pois assim é.