Ouvi batidas na porta dos fundos e fui ver quem era. Era 2021. Eu o esperava pela porta da frente, mas compreendi que ainda não era o momento. Ele chegou estranho, meio ressabiado, sem saber exatamente o que oferecer. Convidei-o para conversar e lhe perguntei como se sentia com tantas inseguranças e incertezas. Ele me olhou fundo nos olhos e disse: os que me antecederam foram capazes de te dar certezas? De repente me pus a pensar nos anos que vieram antes e percebi que a única certeza que conquistei era a de que, por piores ou melhores que ocorressem as coisas, eu sempre estaria em movimento, caminhando para frente, nada seria permanente. Mas a minha parte criança queria respostas, ainda buscava certezas e me pus a perguntar: eu já posso sair de trás da janela? As coisas voltarão a ser como antes? Quando tudo isso vai passar? Vou voltar a viajar? As pessoas vão parar de morrer nesta proporção?
Mais uma vez ele me olhou profundamente nos olhos e disse: acabei de chegar, sou novo e não tenho as respostas que só meu pai, o Tempo, poderá trazer; mas não será no seu tempo, será no que puder ser. Percebi então que recebi 2021 acompanhada de uma amiga, a Ansiedade. Desta vez fui eu que olhei nos olhos dela e disse: vem comigo, vamos viver cada momento. Assim percorri 2021, tateando o que fazer, descobrindo novas maneiras de me relacionar, abrindo mão de conquistas antigas, conquistando coisas novas. Em alguns momentos, minha amiga Ansiedade era quem me conduzia, em outros fui acompanhada pela Paciência. Segui vivendo um dia de cada vez e fui percebendo que outra amiga ficava sempre por perto e ia tomando cada vez mais a liderança do caminhar. É uma amizade recente, não a conheço há tanto tempo quanto a Ansiedade e a Paciência, mas ela vem me ensinando muito e acolhe as outras com muita amorosidade. É a Aceitação. Ela é sábia, não julga, não questiona, apenas busca me conduzir, mesmo nos momentos em que quero soltar sua mão. Ela deixa que eu siga o meu movimento e assim, através dela, vou me tornando mais confiante. Agora 2021 chega ao fim, e como me anunciou desde o começo, sem absolutas seguranças ou certezas. Aprendi muito com ele e agora olho para 2022 e digo: seja bem-vindo, como vier, do jeito que vier. Sei que a única certeza que você me traz é a de que por melhores ou piores que sejam meus momentos com você, tudo vai passar. Minhas amigas me olham e dizem: sim, porque você está viva e viver é isso.
