Através da Janela


2020 entrou pela porta da frente como tantos anos antes dele. Veio festivo, cheio de promessas e expectativas e de repente fechou a porta e nos colocou atrás da janela. Através da janela vi ruas esvaziarem e varandas sendo ocupadas. Através da janela vi as estações passarem sem que eu precisasse mudar o guarda roupa. Através da janela vi outras janelas que nunca havia atentado anteriormente. Através da janela vi os dias passarem iguais, repetitivos, lentos, mas ao mesmo tempo tão intensos como se neles coubesse uma década. Através da janela virtual trabalhei, aprendi, ensinei e me reinventei. Através da janela vi meus queridos todos; a família, amigos antigos, novos e estranhamente nunca me senti tão perto, tão amada e querida, apesar de distante. Através da janela vi meu companheiro adoecer e mudei de janela. Através da janela de um hospital vi a vida passar lá fora e senti medo de perder uma vida do lado de dentro. Através da janela recebi abraços solidários, carinhos e manifestações de afeto que me fizeram sentir como se eu não estivesse atrás de uma janela e sim envolvida por uma corrente de força tão real que parecia um abraço concreto. Através da janela vi as ruas voltarem a ficar movimentadas e senti medo das consequências dos atos daqueles que desnecessariamente estão do outro lado da janela. Através da janela vejo 2020 indo embora e fico grata pelo aprendizado, solidariedade e proximidade verdadeira que ele me trouxe atrás da janela. 2021 chega estranho, como sem saber exatamente o que oferecer. Por enquanto ele me mantém atrás da janela com a esperança de que em algum momento ele possa abrir a porta da frente e me dizer: Pode sair, mas não perca nada do que adquiriu através da janela.

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