Famílias divididas, casamentos em crise, namoros terminados, amizades rompidas. O outro como inimigo e responsável pelo futuro catastrófico e tenebroso que acreditam se avizinhar. Como se, de um momento para o outro, tivessem deixado de ter algo em comum; o bem querer e o respeito, por exemplo. Este é o cenário que temos vivido nos últimos tempos. Cada um do seu lado, com seus radicalismos e convicções, acreditando que apenas existe um lado certo e, portanto, o outro está absolutamente errado.
É a consciência individual que divide a vida em isto ou aquilo, e que deixa de observar que isto ou aquilo pertencem a um mesmo contínuo, assim como a vida e a morte. O mais intrigante em tudo isso é que, ao olharmos para os dois lados que se dizem opostos, o que observamos é a igualdade mais do que a oposição. Sim, estou me referindo ao momento político atual, onde cada lado aponta no outro aquilo que o outro também aponta nele. Não sabemos em quem confiar, em quem acreditar e passamos a acreditar no discurso que vem mais ao encontro dos nossos medos infantis de exclusão, abandono e desesperança. Ficamos como crianças que não confiam nos adultos e temem pela própria segurança. Não existe previsão correta e absoluta. Não existe político perfeito e capaz de salvar o mundo. Assim como não existe pai perfeito ou super-herói que irá nos salvar de todos os perigos da vida.
A história nos mostra que não é possível acreditar nas promessas de políticos, e uma das razões é que eles são apenas uma pequena parte de algo maior que é o processo evolutivo da nação, eles também fazem parte e estão a serviço deste algo maior. O que isto significa? Estamos vivendo um momento de grande transformação evolutiva enquanto nação e este radicalismo também faz parte. Se focarmos no processo como algo maior, talvez possamos olhar para nossos queridos, família, afetos, amigos e compreender que suas opiniões e posturas não são para nos prejudicar, não são contra nós e sim a favor dos medos que eles carregam e a favor de uma história que ainda não compreendemos, pois a vivemos neste momento.
“Cada um tem o direito de votar em quem acredita, ou não votar, se assim acredita.”
Daqui a alguns anos, talvez possamos olhar para trás e compreender que tudo aconteceu como precisava ser e que mesmo este momento de tanta tensão e discórdia passou. Como diz a música “Cancion Por La Unidad Latinoamericana”, cantada por Milton Nascimento:
“A História é um carro alegre
Cheio de um povo contente
Que atropela indiferente
Todo aquele que a negue”
Independentemente do resultado convido a enxergar seus afetos como eles são, nem melhores, nem piores do que você, apenas diferentes, e olhar para nossa nação com afeto e sem rancores pois, como diz a mesma música:
“O que brilha com luz própria
Ninguém pode desligar
Seu brilho pode atingir
A escuridão de outras margens”