O desafio do equilíbrio entre a rigidez e a permissividade
Em minha prática clínica recebo muitos pais queixando-se de que educar os filhos é mais difícil do que imaginavam. Penso que se houvesse uma pílula mágica para educar filhos, bateria o recorde de vendas. Vejam a quantidade de livros com esta finalidade e embora o tema seja bastante discutido, ainda deixa muitos pais de cabelos brancos de tanta preocupação.
Quando olhamos a evolução do processo educativo notamos que houve um salto do extremo de uma educação rígida para o outro extremo de uma educação flexível demais. Os padrões de certo e errado que eram estabelecidos e transmitidos a partir da visão paterna passaram a ser encarados como opressores. Com objetivo de educar filhos mais livres, passou-se a uma relação horizontal entre pais e filhos, sem limites claros, onde foram colocadas nas mãos das crianças decisões às quais não estavam capacitadas a tomar. As vontades das crianças passaram a ser obedecidas pelos pais. Agora temos o grande desafio de encontrar o equilíbrio para tudo isso.
A educação baseada no diálogo é extremamente saudável. Respeitar a identidade do outro, levando em consideração suas experiências, suas dificuldades e limites, fortifica os laços afetivos. Respeitar seu filho da mesma forma como você respeita uma pessoa adulta é dar a ele a autonomia e dignidade que todos nós precisamos para viver. As crianças aprendem a se comportar e a se relacionar por imitação. Portanto, se as tratamos com respeito e dignidade é assim que seremos tratados por elas.
Os pais que vêem seus filhos como seres humanos capazes de desejarem, de terem suas próprias ideias e de fazerem escolhas coerentes com sua idade, os fortalecem para lidar melhor com as dificuldades que enfrentarão ao longo da vida. Incentivar a curiosidade das crianças, valorizando a capacidade de aventurar-se e de conquistar seus objetivos ajuda a desenvolver a autoconfiança e a segurança.
Entretanto, não podemos confundir esse tipo de educação com o ato de “não intervir” ou o de “não contrariar”. Muitos, inclusive, devem estar se perguntando agora sobre a questão dos limites. Educar com liberdade, respeito e diálogo é deixar de impor limites? Não.
Ao nascer, a criança ingressa em um mundo pronto, desconhecido e misterioso, com regras e limites aos quais terá que conhecer e se adaptar. O conjunto de regras que orientarão seus atos serão passados pelas relações, principalmente com os pais. Deixá-las livres para tomarem suas próprias decisões, sem que tenham ainda o devido conhecimento do mundo, gera insegurança e incerteza.
Mesmo nós adultos quando nos deparamos com uma cultura nova, um outro país, por exemplo, necessitamos de mediadores que nos ensinem como agir neste novo contexto. Eles vieram primeiro conhecem as regras, nós viemos depois, temos que aprendê-las e nos submetermos a elas antes de contestá-las.
Da mesma forma, quando os pais têm claro seu papel como adultos responsáveis pelo bem estar não apenas físico, mas também emocional das crianças e são capazes também de deixar claro qual é o papel do filho, agem como aqueles que vieram antes e, portanto possuem mais conhecimento. A criança que recebe dos pais com clareza qual o seu papel e o seu limite, enquanto aquele que veio depois, sabe até onde ir e isto lhe traz confiança.
É possível oferecer uma educação com limites baseada, também, no respeito e no diálogo através do cuidado para não exigir da criança um comportamento ou habilidade que estejam acima de sua capacidade. É importante dar à criança a possibilidade de argumentar e tomar decisões de acordo com a maturidade dela. Isso lhe traz conforto.
Portanto, pais, na verdade não é preciso descobrir a fórmula mágica para educar os filhos, mas sim o equilíbrio do meio termo, nem uma educação autoritária e rígida que impeça o desenvolvimento da confiança e autonomia e nem uma educação muito permissiva que gere insegurança e dificuldades em lidar com frustrações. Possibilitar aos filhos uma educação fundamentada no amor, com regras simples, claras que os direcionam, sem perder, no entanto o respeito e a dignidade que eles merecem, em um meio onde eles possam criar, brincar e descobrir o mundo com o alicerce que são vocês.