“Mãe me conta quando foi que a senhora deixou de segurar na minha mão?
Quando a senhora deixou de escolher a roupa que eu deveria vestir?
Em que momento a senhora deixou de costurar minhas roupas e cuidar do meu uniforme de escola para que eu estivesse com aparência impecável?
Quando, mãe, a senhora deixou de me dar bronca por ainda não ter feito uma tarefa e me fazer repetir a tarefa mal feita?
Quando a senhora deixou de me esperar da escola?
Em que momento a senhora deixou de me ajudar com meus filhos?
A partir de quando a senhora deixou de chamar minha atenção porque não uso batom todos os dias?
Quando foi que a senhora deixou de fazer minha comida favorita?
Como tão rapidamente a senhora se tornou esta pessoa frágil, dependente e debilitada?
Olho para trás e não encontro os exatos momentos, percebo o quanto tudo isto foi importante e sinto saudades de quem fomos. Critiquei tantas vezes e agora simplesmente sinto falta.
Minha criança interna olha para cima e mais uma vez questiona o Criador: por que o Senhor não criou as mães para serem eternamente jovens?
Ele me olha nos olhos e diz: para que elas pudessem receber dos filhos um pouco do cuidado e amor que deu a eles. O que os filhos retribuem é muito pouco diante de tudo o que receberam, a vida.
Tomo minha criança no colo, sigo cuidando e penso; está tudo bem.”
(Vanilda Mendonça)