Já fui em vários psicólogos e nenhum resolveu meu problema…
Sempre que alguém me procura para fazer terapia e diz isto ou algo parecido, fico me perguntando o que o fez pensar que eu seria capaz de resolver seus problemas. Na maior parte das vezes sei que alguém me indicou e fez boas referências ao meu trabalho e quem me procura agora deseja, em seu sofrimento, que eu seja capaz de tal proeza, mas não sou…
Nem eu, nem terapeuta algum é capaz de solucionar problemas alheios, aliás, muitas vezes não conseguimos solucionar os nossos próprios, até porque mesmo quando resolvemos um problema, outros surgem. Então porque buscar terapia?
A maioria das pessoas chega ao consultório com uma reclamação sobre alguma questão externa. A falta de reconhecimento no trabalho, a dificuldade nos relacionamentos afetivos e familiares, as compulsões, as fobias, dentre outras, e tem um desejo oculto de que o terapeuta de alguma forma solucione estas questões, ou pelo menos lhe diga como solucionar. Nessa hora, com muito respeito, costumo brincar e dizer que perdi minha varinha de condão ou quebrei minha bola de cristal.
O trabalho do psicoterapeuta é auxiliar a pessoa em seu processo de aprendizado e autoconhecimento para que ela seja capaz de se relacionar de maneira mais eficiente com seus sentimentos, suas crenças, suas limitações e assim compreender como ela estabelece uma relação problemática com a vida e saber mudar esta relação, ou seja, mudar dentro para mudar fora e não o inverso. Na maior parte das vezes somos nós que geramos nossas adversidades através da maneira como nos relacionamos conosco e com o mundo.
Um processo de psicoterapia bem sucedido é aquele em que a pessoa descobre suas próprias respostas, mas para isso, precisa aceitar que é o agente de transformação e se permitir fazer algo diferente, quebrar velhos padrões e ao final ser capaz de lidar com a vida e seus percalços, compreender que problemas sempre existirão e caberá a ela escolher como lidar com eles da melhor maneira.
Lembrei de um fato ocorrido na vida de Milton H. Erickson (1910 – 1980) considerado o pai da hipnose moderna e da psicoterapia breve.
No auge de sua carreira era muito famoso por tratar de casos “difíceis”. Na ocasião foi procurado por uma senhora que se queixava de ter ido a vários profissionais e nenhum ter resolvido seu problema, portanto ele era sua última esperança. Erickson disse à mulher que apenas a atenderia se conseguisse cumprir uma tarefa. A senhora cheia de esperança concordou de imediato. Ele deu a ela um repolho, pediu que o colocasse em sua bolsa, e não se separasse, em hipótese alguma, da bolsa com o repolho durante dez dias. Ela, embora achasse aquele pedido estranho concordou satisfeita, afinal desejava muito ser atendida por aquele que, mesmo tendo fama de excêntrico, era considerado o melhor entre os melhores. Nos primeiros dias tudo transcorreu bem, mas após alguns dias o cheiro do repolho podre começou a ficar insuportável. Ela e tudo à sua volta estavam impregnados pelo cheiro. Já não saia de casa, evitava as outras pessoas, não tinha vontade de se alimentar, enfim, sua vida estava um transtorno. Um dia, não aguentando mais, jogou bolsa e repolho fora, tomou um bom banho, se sentiu limpa de tudo aquilo, incrivelmente leve e de bem com a vida. No dia marcado voltou a Erickson e contou o acontecido e ele respondeu que seu tratamento estava concluído.
É isso…