Não estou bem, mas não peço ajuda para não preocupar os outros… Estou conseguindo?
Tenho me deparado cotidianamente com pessoas que necessitam de ajuda e, por alguma razão, se recusam a pedi-la ou mesmo a aceitar quando ela é oferecida, mantendo-se em estado de sofrimento. Acreditam que, desta forma, não estarão preocupando os outros, mas na verdade podem estar preocupando-os ainda mais.
No que diz respeito à ajuda profissional é comum encontrarmos pessoas que reconheçam esta necessidade, mas se recusam a aceitá-la. Por exemplo, sofrendo de uma depressão ou qualquer outro estado emocional limitante, diante da sugestão de que seria importante buscar um psicólogo, um psiquiatra, um coach ou qualquer outro profissional capacitado, muitos respondem já saber o que eles lhe dirão, o que têm e o que precisam fazer, mas não o fazem e continuam em sofrimento. Isto se aplica não apenas a doenças emocionais, mas também às doenças físicas que levam a automedicação ou agravamento do estado, enfim, se aplica a problemas de qualquer ordem. Porém, não falarei aqui especificamente da ajuda profissional, até porque ela só será efetiva e bem-vinda se houver aceitação por parte do necessitado e ocorrer na medida do que está sendo solicitado. Também é esperado que na relação profissional não haja envolvimento emocional por parte de quem a presta. Falarei da ajuda que a rede de apoio social dispõe, oferece e dos sentimentos que surgem na relação ajudante x ajudado.
É comum nas famílias, nas relações de amizade, encontrarmos pessoas sofrendo e necessitadas de algum apoio, ou porque estão doentes e precisam ser cuidadas, ou porque estão passando um período difícil e não sabem como lidar. De qualquer forma, por quererem poupar aqueles que amam, se negam a contar ou mesmo a aceitar alguma ajuda. Se questionadas a respeito, dizem que não querem trazer problemas aos outros, ou causar-lhes algum trabalho e desconforto. Dentre tantas, são comuns as frases:
- “Vocês já têm tanto com que se preocupar para se preocuparem comigo.”
- “Isto não é nada, vai passar.”
- “Eu já estou bem.” (e não está)
- “Pode deixar eu dou conta.” (e não dá)
- “Não preciso que ninguém cuide de mim.”
- “Sempre me virei sozinho.”
- “Não preciso que ninguém me diga o que preciso fazer.”
Diminuem o que sentem e impedem o outro de agir e principalmente de manifestar o seu amor. O que está por trás disso? Às vezes orgulho, baixa autoestima, enfim cada um tem um motivo, mas com certeza, na tentativa de não causar sofrimento ao outro acabam por causar um mal maior, pois quem quer ajudar se sente frustrado, impotente, muitas vezes com raiva e com desejo de se afastar. Estabelece-se um círculo vicioso: “eu preciso de ajuda e não aceito para não causar sofrimento ao outro, que se sente impotente e se afasta me isolando e aumentando meu sentimento de inadequação que é percebido pelo outro como sofrimento e volta a oferecer ajuda e eu volto a não aceitar…”.
Na tentativa de não perturbar, acabam perturbando ainda mais, pois quem quer e pode ajudar se sente impotente e tem que lidar com a dor de ver o outro sofrendo em negação. Às vezes desejam apenas entender o que está acontecendo e validar sua percepção, estar junto, fazer parte. Quem ajuda quer restabelecer a ordem, quer harmonizar.
Quando a pessoa não aceita ajuda está verdadeiramente desejoso de poupar o outro, então sua atitude é percebida e sentida por ele como altruísta, mas na verdade é bem egoísta, pois aceitar ajuda pode significar se colocar em um estado de aparente fragilidade não suportada por ele. O gesto de ajudar pode ser a oportunidade de retribuir algo que já se recebeu antes, ou de sentir-se útil e pertencente, sentir-se próximo e estreitar a intimidade, o afeto, o querer bem.
Falar abertamente sobre suas necessidades, receber o cuidado como um gesto de carinho e não um pesar, aproxima, traz clareza, entendimento e aceitação, afinal todos estamos conectados aos nossos através do amor e temos um movimento inconsciente de buscar restabelecer a ordem e a harmonia dentro do sistema.
Somos seres sociais e, como tais, necessitamos uns dos outros.
A você que está doente e não quer dar trabalho a seus familiares, que está passando por dificuldades emocionais e tem vergonha de admitir por medo de ser julgado ou qualquer outra razão, enfim a você que quer de alguma forma poupar os outros de seus sofrimentos, isolando-se e buscando resolver sozinho, quero lhe dar a minha ajuda e você tem todo o direito de aceitá-la, ou não:
“Estenda seus braços e dê àqueles que te amam a oportunidade de lhe ajudar. Eles irão lhe agradecer.”