Pensei em escrever um texto em homenagem ao dia dos pais e me ocorreu falar sobre a mudança atual no papel de pai, que cada vez passa a ter uma participação mais ativa na educação dos filhos. Também pensei em falar sobre como Bert Hellinger compreende o lugar do pai, enquanto aquele que apresenta o mundo ao filho. No entanto, nada disso parecia fazer sentido para mim, pois já se escreveu e se escreve tanto sobre esses assuntos. Foi quando, percebi que na verdade o que eu queria era fazer uma homenagem aos meus dois pais. Isso mesmo, dois pais, pois eu sou uma das pessoas que teve a sorte de ter um pai de sangue e outro de coração e ser muito amada por ambos. Então, me permiti desta vez falar diretamente de mim…
Quando pequena, meus pais se separaram e perdemos o contato com meu pai biológico, mas guardei dele lembranças que carrego comigo até hoje. Lembro dele chegando na boleia do caminhão e trazendo doces e nos levando para passear. Lembro que me abraçava, me pegava no colo e eu me sentia amada. Olho no espelho e busco em mim traços que com certeza são dele, o reconheço e o tomo em meu coração. Durante muito tempo, me esqueci de sua existência e nem sabia que o vazio que eu carregava em mim era a falta que sentia dele.
Fui criada por um outro homem. Meu padrasto foi um homem muito bom. Dele recebi o nome (eu ainda não era registrada) e a educação, aprendi a dar valor aos estudos, aprendi a dançar e apreciar música. Ele não sabia dar afeto, mas demonstrava seu amor em cada cuidado com meu desenvolvimento. Eu aprendi a buscar o seu carinho e ele aprendeu a retribuir. Eu era a única filha que conseguia abraçá-lo. Ele vibrava com cada conquista minha e se emocionava com meu sucesso. Eu me sentia amada e por um tempo, pensei que ele era meu único pai, mas o vazio interior ainda morava em meu coração.
Muita terapia, muito processo de autoconhecimento e muita busca interior culminaram com minhas Constelações Familiares onde pude receber o amor dos dois em meu coração e pude, enfim, me sentir inteira. Percebi que a minha menina interior ainda buscava o pai e se sentia dividida, como se amar um fosse trair o outro e assim não me permitia amar ninguém. Hoje, recebo meus dois pais em meu coração e os amo, cada um no seu lugar e papel. Sou muito grata a meu pai biológico por ter me dado a vida e com isso, junto com minha mãe, ter me dado tudo o que sou. Sou grata ao meu padrasto por ter cuidado de mim e ter me ensinado valores, responsabilidades e ter me educado, sou grata por ter me dado tudo o que tenho.
Hoje tenho meus filhos e netos, e sei que neles reverbera muito destes dois grandes homens a quem reverencio, honro e homenageio.
Quando tomamos a força do pai, podemos olhar para vida com gratidão.