Ouço muitas pessoas dizendo que se sentem fraudes quando recebem um elogio. Elas não acreditam no elogio, como se não merecessem. Se este também for o seu caso, proponho que você se faça algumas perguntas: “O que faz com que além deu não acreditar em mim, também desacredite no outro que me elogia? De que lugar, dentro de mim, trago a crença de que sou uma fraude? O que é uma fraude? Me sinto uma fraude comparado a que ou a quem?
Em minhas reflexões compreendo que esta crença vem da criança interior e de sua história, não dos fatos reais como aconteceram, mas da interpretação dos fatos a partir da relação da criança com seus pais, com o meio no qual veio inserido, seu sistema, e tudo o que deles reverbera em termos de cobrança por perfeição e completude. Muito provavelmente, em algum momento da tenra existência, houve a interpretação de que esperavam que a criança fosse perfeita – e talvez até esperassem mesmo –, e ela tomou isto como uma missão na busca por ser aceita, pelos pais e por ela mesma. Acabou criando expectativas irreais do tipo: serei boa se for a mais inteligente, se souber tudo a respeito de todos os assuntos. Serei boa se for a mais bonita, admirada e querida por todos, se sempre souber como me comportar e atender às expectativas que eu tenho sobre as expectativas alheias, se tiver uma autoestima inabalável diante de qualquer intempérie da vida. Penso que isto sim é uma fraude, pois é impossível ser assim, é inumano.
Quando me comparo a este ideal que criei de mim mesma, deixo de valorizar e reconhecer quem eu verdadeiramente sou. Um ser humano que jamais será capaz de atender tais expectativas, mas que é capaz de transitar pela vida de maneira adequada e ser reconhecida por isso.
A definição da palavra fraude é: Uma ação ilícita e desonesta com o propósito de enganar outras pessoas para garantir benefício próprio ou de terceiros. No caso que estamos analisando, não existe uma ação ilícita e desonesta, mas um pensamento de menos valia e descrédito que não busca enganar os outros, e os benefícios que trazem são indiretos.
Quando os outros me elogiam, reconhecem meu valor e eu não lhes dou crédito, a quem estou de fato enganando? Que benefícios estou ganhando?
Acredito que o primeiro passo a ser dado para lidar com tudo isso seja: reconhecer o que busco quando tento me enganar. Quais as consequências de não reconhecer meu real valor? Pode ser que eu espere que o outro me reconheça como eu gostaria de ter sido reconhecido pelos meus pais. Pode ser que eu tenha receio das responsabilidades advindas do auto reconhecimento; pode ser que eu sofra da Síndrome do Impostor; ou mesmo existam razões internas. Independentemente do que seja, o convite que faço é:
“Que tal começar a olhar para sua trajetória de vida como a de um ser humano comum e não de um ser perfeito e irreal? O ideal não existe, o real lhe permite crescer. Ser humano é ser imperfeito e evoluir com os “erros” que decorrem da imperfeição.”
Experimente receber um elogio, ouvir a partir do lugar do adulto e perceber se o que está sendo dito faz sentido, se condiz com os fatos. Se você realmente fez algo por merecer, aceite e acredite no ponto de vista do outro, pois quando não somos capazes de receber um elogio, não desacreditamos apenas de nós, mas também desacreditamos do outro.