Meu convite agora é para continuarmos aprofundando um pouco o conhecimento sobre a tão falada síndrome do impostor. Perceba se você se reconhece em alguns destes pensamentos:
- Preciso me esforçar para obter um resultado melhor.
- Não sou bom o suficiente.
- Não sou tão inteligente quanto os meus pares.
- Vão perceber que eu não domino o assunto.
- Sou uma farsa e a qualquer momento serei desmascarado.
- Como posso ser tão limitado?
- Sou bom, mas parece que tudo de ruim acontece comigo.
- Tive sucesso por pura sorte.
- Estão me elogiando, mas qualquer um pode fazer isso e não fiz mais que minha obrigação.
Você se identificou com a maioria? Então talvez sofra da síndrome do impostor, também conhecida como “pessimismo defensivo”.
Estes são pensamentos e falas bastante comuns em pessoas que não conseguem reconhecer seus potenciais, valores, resultados e capacidades, por mais que recebam elogios. Sentem-se incapazes de acreditar e internalizar o sucesso.
A síndrome acomete tanto homens quanto mulheres, mas é mais comum entre as mulheres e tem se agravado com a Pandemia. O sentimento de insegurança diante do futuro fez com que muitos temessem pela perda do emprego, o que aumentou a autocobrança por melhor desempenho. Além disso, também vieram as sobrecargas consequentes do trabalhar, exercer atividade física, cuidar de crianças, idosos, realizar tarefas domésticas etc., tudo confinado no mesmo espaço. Neste cenário não há como cumprir com todas as expectativas, é impossível dar conta de tudo sem que haja erros, adiamentos e falhas naturalmente humanas.
O que faz com que uma pessoa desenvolva estes sintomas?
Quem sofre desta síndrome costuma se sentir desamparado, ter dificuldade em administrar a raiva e os conflitos, além de querer muito agradar os outros e a causa pode estar na maneira como sua estrutura emocional foi desenvolvida e como sua criança internalizou e interpretou o mundo a partir da relação com seus pais, com o meio no qual veio inserido, seu sistema, e tudo o que deles reverbera em termos de cobrança por perfeição e completude.
Vou falar de um experimento realizado em muitas escolas pelo mundo para trabalhar com os estudantes o efeito do bulling na estrutura emocional. Pegaram duas plantas de igual tamanho e vitalidade e solicitaram que os alunos dirigissem palavras motivadoras e elogios a uma delas e palavras maldosas e de desqualificação à outra. Ambas as plantas receberam o mesmo tratamento quanto à exposição de luz, água e adubo, mas os resultados foram completamente diferentes. Enquanto a planta que foi elogiada permaneceu viçosa, com folhas brilhantes, a que foi ofendida começou a murchar e suas folhas perderam a vivacidade.
Se a desqualificação externa é capaz de causar tais efeitos em uma planta, imagine o efeito da desqualificação interna, e externa muitas vezes, na pessoa que diariamente não se reconhece como merecedora de conquistas. Ela se sente envergonhada, incapaz, diminuída diante de outras pessoas. É como se diariamente bombardeasse sua mente de coisas ruins e isso acaba por causar angústia, culpa, sofrimento e cada vez mais autocobrança. Como a planta, ela também perde a vivacidade.
Mesmo diante de elogios e provas reais como notas, avaliações de desempenho, feedback positivo, ainda assim não há a validação dos resultados e a pessoa tende a atribuí-los à sorte, benevolência alheia ou mesmo justificar que qualquer um seria capaz de fazer o mesmo, enfim, sempre busca uma justificativa externa para não se valorizar. Isto acaba por gerar mais cobrança interna pois, como não reconhece seus resultados, mesmo que os alcance nunca será suficiente, sempre estará em busca de uma perfeição inexistente, de uma felicidade ilusória. Como consequência a pessoa acaba trabalhando mais, se esforçando mais, acreditando que se fizer isso será capaz de atingir o ideal desejado, mas na verdade o que acontece é o aumento do estresse. Isto interfere em suas atividades diárias, inclusive vida social e relacionamentos, causando mais cobrança interna por bons resultados também nestes âmbitos e assim o processo se retroalimenta. Cobro – faço – não reconheço – me esforço mais – sofro – cobro…
Também é comum aqueles que acabam adiando ou deixando sempre as tarefas e compromissos para o último momento. Costumam dispersar a atenção e o foco, muitas vezes ocupando tempo demais para cumprir uma obrigação. O objetivo é evitar ou adiar ao máximo o momento em que será avaliado ou criticado, pois há o medo de que seus temores, a autocobrança e a desqualificação se concretizem. É comum que, diante de um resultado não atingido, a pessoa acredite ser capaz de fazer mais e melhor, porém justificar, se desculpar, alegando intercorrências externas que a impediram.
Como lidar com a síndrome do impostor?
A melhor maneira é conhecer e aprender sobre esta desordem psicológica que, embora não seja classificada como doença mental, é responsável por muito sofrimento e motivo de consulta a psiquiatras e psicólogos. Se acompanhada de depressão, ansiedade excessiva, síndrome do pânico ou outro quadro mental, talvez seja importante a consulta a um psiquiatra para intervenção medicamentosa.
A ajuda psicológica é fundamental, pois permite a ressignificação das crenças que impedem o reconhecimento das capacidades e competências, além de trabalhar a flexibilização interna, a aceitação da imperfeição como algo natural e humano e a compreensão das falhas, que acontecem com qualquer pessoa, como oportunidades de aprendizado e crescimento. Também são recomendadas outras atitudes, tais como:
- Manter rotina saudável de horário de trabalho e de descanso.
- Respeitar as próprias limitações não se exigindo mais do que o necessário.
- Manter atividades que lhe deem prazer, tais como exercícios físicos, encontro com amigos, hobby, etc.
- Ter um mentor, ou alguém mais experiente em quem confie e possa pedir opinião e conselhos.
- Estabelecer metas alcançáveis e compromissos passíveis de serem cumpridos.
- Fazer um diário de conquistas.
- Buscar apoio em pessoas, principalmente amigos, com quem possa compartilhar as inquietações ou angústias.
- Evitar se comparar com outras pessoas.
- Desafiar seus pensamentos críticos, por exemplo: ao receber um elogio buscar ouvir a partir do lugar de quem elogiou e perceber se o que está sendo dito faz sentido, condiz com os fatos, se realmente fez algo por merecê-lo.
- Ter um trabalho de que goste e lhe dê motivação e prazer.
Gosto da frase do Osho que diz:
“Você não é seus pensamentos, você é o observador de seus pensamentos”.
Então acima de tudo e de qualquer coisa é importante ser mais condescendente consigo e aceitar que sua perfeição consiste em ser quem você realmente é, um ser imperfeito, humano e não no que você pensa que deveria ser.